A música disco não foi apenas um gênero. Foi um movimento cultural, um estilo de vida influenciado pelos grupos marginalizados que se tornaram protagonistas após a revolução social dos anos 60. Mulheres, negros, homossexuais e latinos foram os grandes vetores para o desenvolvimento de um gênero que derivou do funk e do soul dos anos 60 para algo mais sincopado, constante, rápido e usando tanto do baixo (só que com menos groove e um padrão mais repetitivo) quanto da bateria eletrônica, sintetizadores, percussão de inspiração latina e mesmo orquestração.
Para além do crescimento das discotecas, da dominância da disco nas rádios e de artistas que não eram ligados ao gênero – e que pularam no barco de lurex e esferas espelhadas no final da década de 70 – a disco foi uma movimentação de estilo, com as roupas, com a liberdade sexual, com a liberdade na identidade das pessoas, com a autodescoberta e a individualidade características da década de 70 (sem contar com as drogas da moda, apropriadas para a noite que nunca terminava – a exemplo da cocaína e dos Quaaludes). No entanto, nem todo mundo estava curtindo a festa.
A “Disco Demolition Night” em 1979, quando vários LPs de disco foram destruídos no meio de um campo de baseball, incentivados por um disc-jóquei de Chicago, foi o auge da insatisfação que grupos ligados ao rock, deixado à margem na época, tinham contra a disco. Outros jornalistas e analistas musicais acreditaram que um dos motivos pelos quais a disco foi rejeitada por um grupo específico foi por haver um componente de racismo, sexismo e homofobia, já que os principais nomes do gênero e as manifestações culturais ligadas à disco eram as mulheres, os negros e latinos, e os homossexuais. Já outros teóricos afirmam que o estilo estava realmente saturado e o público queria outros gêneros de volta.
A questão é que o boicote acabou funcionando, já que no final daquele ano, os hits da disco passaram a rarear, e os artistas ligados ao gênero decaíram em popularidade.
E foi nesse cenário decadente que o Grammy decidiu criar uma nova categoria para a premiação – a Melhor Gravação de Disco, relativa ao ano de 1979, e premiada em 1980.
Too late to the party, folks.
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