O debut album da Lea Michele (a Rachel de “Glee”), “Louder“, foi liberado para stream ontem, depois da Amazon ter disponibilizado as previews. Eu já conhecia essas prévias, e tinha anotado as impressões que tive, e surgiu uma pequena preocupação sobre o álbum – que acabou se tornando, infelizmente, real.
É fato que Lea Michele é uma das vozes mais poderosas da série, e com seu histórico na Broadway, evidentemente o seu vocal seria bem trabalhado no álbum, além da interpretação nas músicas ser no ponto. O problema de “Louder” reside na sonoridade, e na impressão que tive de que se tratava de um álbum que a Leona Lewis teria lançado há uns três anos atrás. Morno, datado, entupido de baladinhas desnecessárias e nada radio-friendly e faixas uptempo datadíssimas, o CD parece um desperdício de talento.
(é claro que muitas das canções escolhidas para a tracklist final se inspiraram nas experiências de Lea com a morte do namorado Cory Monteith, mas até mesmo por isso, o álbum poderia ser mais bem cuidado, mais sofisticado).
Confira um track by track após o pulo…
Cannonball – o primeiro single do CD, já conhecemos bem a faixa: é uma midtempo com letra de superação, com visível inspiração nas baladas das divas dos anos 80/90. Certamente é a faixa mais comercial do álbum, e a mais interessante de longe do álbum. A voz teatral da Lea combina bem com a letra.
On My Way – não precisa de muitas faixas pro CD baixar vigorosamente o nível. “On My Way” é mais uma música pop/dance vinda diretamente de 2011-12 com esse break pseudodubstep antes do refrão. Genérica até não poder mais, parece uma música que a Kelly Clarkson descartou entre as faixas bônus do “Stronger”. O violãozinho no início do último refrão é até simpático, mas não ajuda muito.
Burn with You – Apesar do refrão meio bisonho (“But I don’t wanna go to heaven /If you’re going to hell /I will burn with you” HÃN) essa é uma baladinha corta-pulsos na mesma linha de “Cannonball” que é uma das poucas highlights do CD. Também tem a pegada anos 90, mas pro bem. Tem cara de tema de novela, e isso é sempre bom, porque é uma canção identificável com qualquer pessoa.
Battlefield – baladinha piano-driven, é outra highlight do CD – aqui o álbum parece engrenar, mas é só um engano. A letra, que trata daquele relacionamento meio vai-e-volta, cheio de problemas, também tem jeitinho de tema de novela, facilmente identificável. É mais “moderninha”, mas já ouvimos outras baladas ao piano com soluções melhores e mais bem sucedidas – o que parece não ser o caso dessa música.
You’re Mine – Aqui o CD degringola outra vez, porque não é Lea Michele, é uma sub-Leona Lewis. Não que a voz das duas sejam parecidas – NEM UM POUCO – mas é por conta da sonoridade da música. Outra midtempo meio anos 80/90, com Lea tentando baixar a sua melhor diva pop, mas soando como vencedora de reality show musical. Deve ser a terceira música com a mesma batida com as baterias secas a la “Cannonball”.
Thousand Needles – outra midtempo também 90’s, com aquele cheirinho de filler. Nada a declarar contra o vocal da Lea, que está impecável aqui, mas essas batidas “Ryan-Tedderianas” ficaram lá em 2010/11.
Louder – chegamos a outra uptempo dance-pop, menos óbvia que a faixa 2, mas mesmo assim lembrando 2011. A melhor coisa da faixa-título do CD, que merecia um tratamento melhor, é a letra de auto-ajuda, que apesar de também soar 2011, tem uma abordagem mais simples e direta. Gosto bastante do verso “Why don’t you scream a little louder”.
Cue the Rain – outra midtempo. Filler. Mais uma baladinha 90’s esquecível.
Don’t Let Go – mais uma uptempo dance-pop óbvio, o que prova que o material entregue a Lea foi alguma pasta de músicas que a Kelly Clarkson deixou de gravar em 2011 ou eram músicas que a Leona Lewis recusou em algum ponto da carreira.
Empty Handed – essa midtempo foge das batidas secas e vai atrás de um pop mais puro (a gente pode até arriscar uns ecos pop/rock), mas mesmo com a sonoridade diferente do resto do CD, não é uma faixa marcante. A letra é bonita; no entanto, o refrão não é exatamente forte, o que torna essa outra música esquecível no “Louder. O CD já se tornou cansativo a essa altura, mesmo com o pequeno número de faixas.
If You Say So – co-escrita pela Lea Michele, a letra trata visivelmente do sofrimento dela após a morte do namorado Cory Monteith. Balada piano-based, tem os vocais poderosos e a atmosfera melancólica, mas a letra não ajuda muito. Eu adoraria considerar a música bonita ou a letra tocante, emocionante, mas o resultado não foi dos melhores. A música pareceu, no final, um projeto de canção triste sobre a perda trágica de um grande amor que não deu certo.
Aqui termina a edição standard do álbum. “Louder” não faz jus ao talento imenso de Lea Michele como cantora. As músicas, midtempos inspiradas nos anos 80 e 90 soam insossas e genéricas, lembrando o trabalho de outras cantoras; e as uptempos conseguem ser datadas e igualmente random, também soando como faixas descartadas. O álbum poderia fazer barulho nos charts, principalmente numa época em que a música pop está aceitando uma variedade de ritmos e estilos como há muito as rádios e o iTunes não viram, e a popularidade da Lea em Glee é um buzz, mas com esse material, o debut que se imaginava ambicioso para a jovem cantora não foi tão alto quanto se pensava.
Veja o clipe de “Cannonball” e comente aqui o que achou do álbum!